Plano de classificação

A Boa Reguladora. 1892-2007

Ações disponíveis

Ações disponíveis ao leitor

Consultar no telemóvel

Código QR do registo

Partilhar

 

A Boa Reguladora. 1892-2007

Detalhes do registo

Nível

Registo de autoridade   Registo de autoridade

Tipo de entidade

Código

BR

Forma autorizada de nome

A Boa Reguladora. 1892-2007

Datas de existência

1892-02-14  a  2007 

História administrativa/biográfica/familiar

A Boa Reguladora resultou de uma sociedade de "capital e indústria” formalmente constituída em 14.02.1892, por escritura registada no cartório notarial de Vila Nova de Famalicão, entre João José de São Paulo, negociante e natural do Porto, e José Gomes da Costa Carvalho, proprietário e natural de Mouquim, com capital ilimitado e em partes iguais, isto é, cresceria à medida das necessidades, recorrendo se necessário a um terceiro sócio se qualquer um deles não tivesse possibilidade de enfrentar aumentos de capital. Destinada ao comércio de relógios ou de objetos relacionados com relojoaria e particularmente ao seu fabrico, a oficina incorporava o trabalho dos dois sócios como empregados, retirando São Paulo, o verdadeiro relojoeiro, 1000 réis diários e José Carvalho 700 réis. Como os própriosfabricantes explicavam no Catálogo da Exposição Industrial de 1897, a iniciativa pioneira de fabricar relógios em Portugal devera-se ao antigo sócio João José de São Paulo. A oficina-fábrica foi estabelecida na rua Gomes Freire (depois Faria Guimarães) no Porto no ano de 1893, na sequência da obtenção de privilégio de patente obtido por alvará de 18.5.1893. A patente (nº 1793) registava aperfeiçoamentos nos relógios de sistema americano ou alemão, com adaptação de serra em vez de roda contadeira, o que permitia acertar os relógios através dos ponteiros, segundo o modelo americano da “Ansonia Clock Cny”. Tinha uma duração de privilégio de exclusividade de 6 anos, terminando a 17-5-1899, o que lhe permitiu ganhar fôlego face a eventuais concorrentes. Este facto merece relevância porque se enquadra nas muito discutidas políticas protecionistas de 1892 e 1893, que não se restringiram às pautas alfandegárias, mas se estenderam a outras áreas. Logo no ano seguinte ao da concessão, a firma apresentara-se na exposição agrícola e industrial de Vila Nova de Gaia, onde foi premiada com medalha de oiro. Adoecendo o sócio João São Paulo (morreria pouco depois de doença pulmonar que o levara várias vezes à Suíça, onde teria congeminado a ideia de fabrico próprio de relógios), a 11.07.1895 a sociedade foi reconstituída. São Paulo, já representado por um procurador, cedia a sua quota a José Carvalho, sob a condição de este pagar as dívidas daquele, orçadas em 2100$000 réis a diversos credores. José Carvalho associa, então, o seu irmão Lino de Carvalho, dado na escritura como relojoeiro, e o principal credor de João São Paulo, Joaquim Martins de Oliveira Rocha. O capital da firma era avaliado em 4700$000 réis (todo já aplicado em mecanismos e materiais, porque não havia bens de raiz), ficando José Carvalho com dois contos, Oliveira Rocha com 1650$000 (verba da dívida de São Paulo), e Lino de Carvalho com 1050$000. A firma assume então a designação Carvalho, Irmão & Cª, ficando os dois irmãos como sócios de capital e de indústria (a vencerem apenas $ 500 réis por dia, que poderia depois ser elevado a 1$000, conforme os balanços) e Oliveira Rocha apenas como sócio capitalista. prevendo-se desde logo a possibilidade de transferência da fábrica para outra localidade. Não havendo bens imóveis, a fábrica foi logo transferida para Vila Nova de Famalicão, para um "edifício de construção ligeira, mas amplo e em condições de se poder dar ao fabrico o desenvolvimento que a pronta extração dos seus produtos exige”, revelando um mercado nacional para estes produtos, a acompanhar os novos ritmos que pautavam o quotidiano, impostos pelo trabalho industrial e a febre das comunicações. Lino de Carvalho, que tinha uma relojoaria comercial e oficina na rua de Santo António, em Vila Nova de Famalicão, deixou esta actividade, através de passagem comercial, e foi implantar e dirigir a fábrica com seu irmão, ficando as instalações junto à linha férrea, em Calendário. Em 1897, nas suas instalações famalicenses, a fábrica já possuía 34 máquinas de diverso tipo, na sua maioria movidas a vapor, ocupando 36 operários, e produzindo uma média mensal de 160 relógios para mesa e parede, com potencialidades para crescer”. Em 1901, Oliveira Rocha é finalmente reembolsado da sua quota, obtida apenas como garantia da dívida contraída por João São Paulo, reorganizando-se de novo o pacto social (2.8.1901), agora incluindo apenas os dois irmãos. Sob a firma J. Carvalho & Irmão, a unidade fabril "para exploração de relógios, serragem e molinhagem” representava já um capital de 13364$480 réis, dos quais pertenciam ao José 8908$64.0 e 4455$84.0 ao Lino, incluindo já maquinismos, materiais e prédio. E a sua actividade alargava-se, provavelmente como forma de explorar atividades conexas, dadas as potencialidades energéticas de que dispunha. Nos inícios do século, A Boa Reguladora, de J. Carvalho & Irmão, já anunciava não só como fábrica de relógios, mas também como carpintaria mecânica, serração e moagem. A Boa Reguladora é, assim, o resultado de um entusiasmo pessoal — João São Paulo, relojoeiro de profissão, que ambiciona o fabrico próprio de relógios, para o que estabelece relação com um serralheiro conceituado — José Carvalho. Essa relação desenvolve-se através da rede comercial de relojoeiros do Porto, como nos mostra Miguel Dias Costa, — ficando a relojoaria Andrade Mello, no Porto (rua Mouzinho da Silveira), como agente distribuidor dos produtos da fábrica. A ligação ferroviária foi aqui um elemento decisivo da fixação industrial, permitindo que a fábrica explorasse fatores de produção mais baratos (custos de instalação, mão-de-obra e menor carga fiscal) em Vila Nova de Famalicão, facilitando o acesso ao mercado de distribuição. Este factor de fixação teve a sua conjuntura propícia no clima proteccionista implementado em 1892, não só pelos efeitos aduaneiros, como principalmente pela concessão do privilégio de patente de novas indústrias (dec. 30.09.1892).Fonte: Alves, J. (2005). A Indústria em Vila Nova de Famalicão: Uma perspectiva histórica. In Capela, J. V. (coord.), História de Vila Nova de Famalicão. Quasi Edições, p. 457-458 Em 2007, três ex-trabalhadores, adquiriram a patente "Boa Reguladora", criando a empresa "Regularfama", instalada na antiga fábrica, com o objetivo de restaurar e prestar assistência técnica aos antigos modelos e fabricar outros modelos com a tecnologia mais recente. Em 2012 a fábrica encerrou.

Relações com registos de descrição

Relações com registos de descrição
Registo Código Tipo de relação Datas da relação
FundoA Boa Reguladora PT/MVNF/AMAS/BR Produtor